domingo, 9 de dezembro de 2007

Viagens

Sexta-feira. Saio do trabalho à hora de almoço e dirijo-me à estação de comboios tão apressadamente quanto possível, tendo em conta o peso da mochila que me faz parecer corcunda e às pernas que reclamam do stress.

Após a quase meia hora de caminho atinjo o objectivo, ainda com tempo para comprar bilhete e apanhar o comboio com destino a Londres, primeira etapa da viagem até Ramsgate. Claro que, para não variar, estava alguém que não conseguia tirar o bilhete desejado na máquina e portanto demorava e demorava e demorava... Considerando que a bilheteira estava fechada (muito habitual também) e que a dita máquina é a única existente, as pessoas que esperavam impacientavam-se.

Claro, mais uma vez, que ninguém se ofereceu para ajudar. Atendendo a que não me apetecia perder o comboio e que já vai sendo um hábito ajudar ingleses a usarem as maquinas lá perguntei se precisava de ajuda à passageira que já lançava uns olhares em redor, mas sem coragem de pedir ajuda (britaniquices ;-)). A resposta foi um sorriso e um "Yes, please!!". Lá seleccionei o dito bilhete, e a fila andou. Além de ser agradável ser simpático também é bem mais prático, mas pelos vistos é um segredo que nem muitos conhecem...

Já no comboio, apercebi-me que viajavam dois brasileiros à minha frente a dizerem bem dos transportes daqui... Atendendo a que não queria decepcioná-los com um acordar para a realidade não meti conversa...

Chegada a Waterloo. Rápida paragem no Marks & Spencer para comprar sandes-almoço. Dirigi-me à estação de Waterloo East sorrindo sozinha ao lembrar-me da última vez que tinha feito aquele percurso, três tugas arrastando malas em corrida desenfreada pelos corredores tentando, à laia de gincana, não atropelar passageiros e pirralhos que se atravessavam no caminho.

Visto que desta vez não estava com falta de tempo decidi ir à casa-de-banho já que, apesar de os comboio por aqui terem lavabos, o mecanismo de trancar a porta dos mesmos permanece ainda um mistério o que constitui um alto potencial para situações embaraçosas... Esta opção revelou-se, no entanto, uma experiência bastante estranha, quase surreal, quando abro a porta e me deparo com uma casa-de-banho iluminada a luz de côr violeta e vidros verdes nas portas... Juro que não tinha tomado nenhuma substância estranha! O que é facto é que visto que o branco tem aquele efeito fluorescente com luz violeta, enfim... Achei que era digno de foto, mas também julguei que a senhora da limpeza que acabava de entrar iria achar estranho alguém sacar da máquina fotográfica na casa-de-banho. Fica para a próxima!! ;-)

Depois da chamada "trip" à casa-de-banho lá apanho o comboio. Verifico que o dito é um dos que se divide numa determinada estação, indo metade de para um destino e a outra para o outro. Lá me acomodo numa das carruagens que se dirige ao destino que pretendo. Até que o revisor chega.. Vê bilhete e diz-me que estou na metade errada do comboio que tenho de ir para a frente. Eu, intrigada, ainda argumento que nesse caso a gravação está a dar a indicação errada. Atendendo a que a resposta é categórica em relação ao facto de eu estar na zona errada, lá vou...

Vencida mas não convencida tomo novamente atenção às indicações no painel do comboio e verifico que eu estava certa. O dito revisor não perde pela demora, mal passa por mim, digo que no painel diz que aquela carruagem vai para o outro destino. Ele confirma novamente e diz "Oh! I thought your ticket said Margate! If you're going to Remasgate it's the other half. Sorry love!" Eu comento que tinha ficado baralhada e ele baixa a cabeça, aponta para a careca e diz "Sorry love, you can hit me now!" Contenho a vontade de aceitar o convite e lhe fazer um galo (mas só porque era simpático) e lá volto à outra zona do comboio onde só descanso quando finalmente dividem o comboio e indicam que aquele comboio se destina a Ramsgate. Moral da história: nunca acreditar em ingleses que nos chamam love. :-P

Resumindo:
Máquinas de bilhetes são animais em vias de extinção por aqui. Pessoas presentes na bilheteira devem julgar-se extintas até prova em contrário.
Idas à casa-de-banho podem revelar-se mais emocionantes do que à partida poderiam parecer.
Não se pode confiar em revisores num país em que é possível que depois de nos devolverem o bilhete já picado observamos que ao invés do tradicional círculo, temos uma borboleta recortada no bilhete...

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